PIONEIRAS DO FEMINISMO NO BRASIL
Queremos relembrar a história das mulheres que abriram caminho para que tomemos as ruas no 8 de março. A história da luta feminista, na América Latina, esteve ligada às lutas pela abolição, pela terra, pelos direitos à educação e ao voto e, também, à oposição às Ditaduras.
Fizemos uma pequena seleção sobre a vida de algumas dessas pioneiras, no Dicionário Mulheres do Brasil, e compartilhamos com vocês.
Adelina nasceu no Maranhão, filha de uma mulher escravizada conhecida como Boca da Noite e de um rico senhor, que prometeu libertá-la quando ela completasse 17 anos. O que não ocorreu, além disso o seu pai sofreu grandes perdas financeiras e começou uma pequena fábrica de charutos para sobreviver. Adelina, que sabia ler e escrever, passou a trabalhar na fábrica de charuto do pai: era encarregada das vendas. Percorria toda a cidade fazendo entregas, entrou em contato com o movimento abolicionista e passou a fazer parte de suas manifestações, ajudando em rebeliões e fugas de escravos.
Luísa Mahin foi uma mulher escravizada no Brasil que teria participado da articulação dos levantes de escravos que sacudiram a Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX. Não existem registros oficiais ou que não venham da oralidade que comprovem sua vida e seus atos. Não se sabe se teria nascido na Costa da Mina, na África, ou na Bahia. Membro do povo Mahi, de onde vem seu sobrenome, Luísa Mahin comprou sua alforria em 1812, com o dinheiro do ganho. Livre, tornou-se quituteira em Salvador. Dizem que, de seu tabuleiro, eram distribuídas as mensagens em árabe que articularam a Revolta dos Malês (1835) e a Sabinada (1837-1838). Ela teve um filho, o poeta e abolicionista Luís Gama, que a mencionou em uma de suas cartas. A história dos dois foi parte importante da pesquisa que deu origem ao livro Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves.
Dionísia Floresta Augusta (1810-1855) é considerada precursora do feminismo brasileiro. Professora e educadora, fundou a primeira escola para meninas no Rio Grande do Sul e, posteriormente, no Rio de Janeiro. A partir da obra da inglesa Mary Wollstonecraft, Nísia Augusta redigiu vários livros e artigos nos jornais sobre a questão feminina, o abolicionismo e o republicanismo. Suas obras Conselhos a minha filha, de 1842; Opúsculo humanitário, de 1853 são apontadas como as primeiras sobre feminismo no Brasil. Era defensora de ideais abolicionistas, republicanos, feministas e teve papel ativo na denúncia das opressões contra os povos escravizados e a população indígena brasileira.
Maria Firmina dos Reis (1822-1917) foi escritora, poeta e professora. Foi a primeira mulher a escrever um romance no Brasil. Nasceu forra, mas sua mãe Leonor Felipa foi escravizada e depois de alforriada tornou-se pequena comerciante. Em 1859, Maria Firmina publicou o romance “Úrsula” considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil. Em 1887, publicou na Revista Maranhense o conto “A Escrava”, no qual se descreve uma participante ativa da causa abolicionista. Aos 54 anos de idade e 34 de magistério oficial, anos antes de se aposentar, Maria Firmina fundou uma escola mista e gratuita para meninas e meninos que não podiam pagar pela sua educação. Uma iniciativa bastante inovadora para época.
Leolinda Figueiredo Daltro (1859 – 1935) foi uma professora, sufragista e indigenista brasileira que ao longo de sua vida lutou pela autonomia das mulheres. Atuou em meio à implantação do projeto republicano de Estado, no magistério público, na educação laica para os índios e no movimento pelos direitos das mulheres. Foi a chefe de sua família, criou e educou seus cinco filhos com os rendimentos de professora. Fundou o Partido Republicano Feminino, com a poeta carioca Gilka Machado, em 1910. Fundou três jornais dedicados à mulher e em 1917 foi uma das organizadoras da passeata exigindo a extensão do direito ao voto às mulheres.
Laudelina de Campos Melo (1904 – 1991) foi uma defensora dos direitos das mulheres e das empregadas domésticas no Brasil. Filha de pais alforriados pela Lei do Ventre Livre, em 1871, foi obrigada, pelas condições de sua família, a trabalhar como empregada doméstica desde os 7 anos de idade. Ao longo de sua vida, atuou em várias organizações sociais ligadas ao movimento negro. Integrava um grupo chamado Frente Negra quando, em 1936, teve a ideia de fundar uma associação para as empregadas domésticas como extensão do movimento. Após a morte do marido, mudou-se para Campinas e lá foi uma ativista importante contra racismo da sociedade local. Em 1961, obteve o apoio do Sindicato da Construção Civil de Campinas para fundar, em suas dependências, a Associação de Empregadas Domésticas desta cidade. A Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas esteve à frente de lutas contra o preconceito racial, intermediando conflitos entre patroas e trabalhadoras, exigindo melhor remuneração e igualdade de direitos. Em 1988, a associação foi transformada em Sindicato das Trabalhadoras Domésticas cuja agenda era a definição de um piso salarial, o registro em carteira e a defesa das associadas contra vários tipos de abuso.
Bertha Maria Júlia Lutz (1894 – 1976) foi uma ativista feminista, bióloga e política brasileira. Formou-se em ciências naturais em Sorbonne e foi pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Integrou a comitiva que recebeu a cientista e duas vezes prêmio nobel Marie Curie, no Brasil. Em 1919, começou a se destacar no movimento por igualdade de direitos jurídicos entre os sexos. Foi a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro, após ser aprovada em concurso do Museu Nacional, no Rio de Janeiro – a primeira foi Maria José Rabelo Castro Mendes, admitida em 1918 no Itamaraty. Foi ainda uma das fundadoras da Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, substituída anos depois pela Federação Brasileira para o Progresso Feminino. O direito de voto feminino foi estabelecido por decreto-lei do presidente Getúlio Vargas apenas dez anos depois, em 1932. Em 1936 assumiu uma cadeira de deputada na Câmara Federal. Durante seu mandato, defendeu a mudança da legislação referente ao trabalho da mulher e dos menores de idade, propondo a igualdade salarial, a licença de três meses para a gestante e a redução da jornada de trabalho, então de 13 horas.
Adalgisa Rodrigues Cavalcanti (1907-1998) foi a primeira Deputada Estadual de Pernambuco. Filha de pequenos proprietários de terra, mudou-se para o Recife em sua adolescência, onde trabalhou como doméstica e depois como vendedora. Apoiou o movimento da Aliança Liberal em 1930, foi presa pela primeira vez em 1936 – ao longo de sua vida política, foi presa mais de 20 vezes. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, em 1945, e se candidatou à assembleia legislativa de Pernambuco na eleição de dezembro do mesmo ano, quando foi eleita. Perdeu seu mandato já em 1947, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu cassar o registro do PCB.
Patrícia Rehder Galvão (1910-1962 ) foi escritora, poeta, diretora de teatro, tradutora, desenhista e jornalista. Cursou Escola Normal e aos 15 anos já escrevia para o jornal de seu bairro. Dedicou sua vida à luta pela igualdade, participou ativamente do Movimento Modernista e depois de sua dissidência, mais à esquerda, o Movimento Antropofágico. Filiada ao Partido Comunista Brasileiro foi presa pela primeira vez em 1931 por participar de comício do partido. Com o pseudônimo de Maia Lobo, publicou o romance Parque Industrial em 1933, provocando polêmica por suas críticas à sociedade paulistana, pela denúncia das condições socioeconômicas dos trabalhadores e por pensar a mulher para além do espaço doméstico. Fez uma viagem de volta ao mundo, enviando reportagens para jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Entrevistou Freud, em um navio, na China. Pagu foi uma mulher inquieta e corajosa que dedicou sua vida à agitação política e cultural.
Rose Marie Gebara (1930-2014) foi uma socióloga, feminista, escritora e editora. Uma das vozes importantes do feminismo no Brasil. Desde jovem escrevia para jornais estudantis. Em 1961, começou a trabalhar para a editora Vozes como responsável pelo catálogo de livros nacionais. Entre 1965 e 1967, fundou a Editora Forense Universitária, da qual foi diretora editorial. Em 1969, tornou-se editora chefe da Vozes e em paralelo seguia sua carreira de escritora. Em 1970, em plena ditadura militar, publicou Libertação Sexual das Mulheres. Em 1975, foi uma das fundadoras do Centro da Mulher Brasileira. Em 1983, publicou A sexualidade da mulher brasileira: corpo e classe social no Brasil e se tornou conselheira, em 1985, do recém-criado Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Junto com Laura Civita, Neuma Aguiar, Ruth Escobar e a Editora Record fundaram, em 1990, a Rosa dos Tempos, primeira editora de mulheres do Brasil. Rose Marie disputou duas vezes eleições para a Câmara Federal, mas nunca foi eleita. Publicou um livro sobre a sua primeira candidatura relatando as dificuldades das mulheres no espaço político (Os seis meses em que fui homem, 1990). Rose foi reconhecida em 2005 pelo governo federal como Patrona do Feminismo Brasileiro.
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